A reportagem da Carta Capital traz uma importante reflexão sobre a questão da imprensa. Gianni Carta faz uma excelente avaliação da Revista Veja e dos últimos acontecimentos envolvendo Carlinhos Cachoeira. Interessante o comentário sobre a imprensa na França, lá os jornais tem posição clara e definida, você identifica qual jornal é de centro esquerda, qual é direita ou centro direita, aqui muitos veículos agem de forma dissimulada para apoiar a direita.
A imprensa deve e tem que ser livre, mas ela não pode ser bandida.
Coloquei uma charge do Laerte que ilustra bem os últimos acontecimentos. Faltou só Dono de Revista Nacional, mas o texto do Gianni Carta descreve bem essa situação.
Política
Gianni Carta
Revista
Veja e Cachoeira
03.05.2012 12:28
Civita, o nosso Murdoch
Rupert Murdoch, o
magnata mais poderoso da mídia do Reino Unido, 81 anos, é interrogado horas a
fio pela comissão parlamentar do Inquérito Leveson. Isso seria possível no
Brasil de Roberto Civita? Foto: Pool/AFP
Policarpo Jr., diretor da sucursal da
revista Veja em Brasília, trocou 200 ligações com Carlinhos Cachoeira. O
bicheiro goiano, escreveu o correspondente de CartaCapital em Brasília,
Leandro Fortes, alega ser o pai de “todos os furos” da revista. E Cachoeira
disse estar pronto a detalhar as histórias que contou para Policarpo Jr. na
CPI.
O patrão da Editora Abril, Roberto
Civita, 75 anos, sabia quem era a fonte de todos aqueles “furos” da semanal
mais lucrativa de sua empresa? Se for convocado para depor na CPI do Cachoeira,
Civita reconhecerá que a Veja não respeitou a ética jornalística? Usar
como parceiro de reportagem um criminoso com estreitos elos (às vezes
acompanhados de subornos) com um senador, deputados, governadores e uma
empreiteira foge à regra essencial do jornalismo: a de apurar as duas ou mais
versões da mesma história.
Mas o patrão da Abril provavelmente não
dará o ar da graça na CPI. Isso porque os jornalões e a tevê Globo agem em
bloco para que isso não aconteça. São dois os motivos. O bicheiro, atualmente
atrás das grades, favorecia os “furos” a envolver os inimigos “esquerdistas” da
mídia tucana, principalmente petistas e ministros. Segundo motivo: jornalistas
de outros orgãos da mídia também obtinham seus “furos” de Cachoeira.
Por essas e outras, Policarpo Jr. e a
recomendável convocação de Civita para a CPI nunca estiveram no noticiário.
Enquanto isso, Rupert Murdoch, o
magnata mais poderoso da mídia do Reino Unido, 81 anos, é interrogado horas a
fio pela comissão parlamentar do Inquérito Leveson, que teve início em novembro
de 2011. E na quarta-feira 2 até o Senado dos EUA entrou em contato com os investigadores
britânicos para avaliar se abrirão um inquérito com o objetivo de investigar se
a News Corporation passou a perna em leis norte-americanas.
Através de seus jornais – Times,
Sunday Times, Sun e News of the World – Murdoch teve
grande influência nas eleições dos primeiros-ministros conservadores Margaret
Thatcher, John Major, David Cameron e Tony Blair. Até aí nada de errado.
Publicações europeias apoiam candidatos políticos em seus editoriais, coisa que
no Brasil acontece raramente. A mídia canarinho gosta de ficar em cima do muro
enquanto distorce e manipula o noticiário a favor dos candidatos conservadores
preferidos pelas elites. Enfim, prima a ambiguidade e a desinformação na mídia
brasileira enquanto a mídia europeia se posiciona ideologicamente, o que lhe
confere credibilidade. O leitor do vespertino francês Le Monde, por
exemplo, sabe ter em mãos um diário de centro-esquerda que apoia o
socialista François Hollande no segundo turno da presidencial, em 6 de maio.
O problema da mídia murdochiana foram
os métodos por ela usados: escutas telefônicas ilegais e suborno de policiais
por informações privilegiadas foram as mais graves. De fato, o tabloide News
of the World foi fechado porque a acusações acima foram provadas.
Jornalistas e um detetive contratado pelo jornal foram presos.
Agora o Inquérito Leveson quer se
aprofundar mais na relação da mídia com políticos e funcionários públicos.
Nesse contexto, investiga o grupo de Murdoch e outras empresas de comunicação.
Ao mesmo tempo, pretende avaliar se o regime regulatório da imprensa da
britânica falhou. Em suma, lá no reinado fazem o que não é feito aqui: uma CPI
da mídia.
Murdoch admitiu no Inquérito Leveson
ter sido “lento e defensivo” em relação às escutas telefônicas ilegais.
Reconheceu ter falhado ao negar o conhecimento sobre a verdadeira escala dos
grampos telefônicos até 2010 devido à conduta de subordinados que o deixaram
sem informações. Ou será que Murdoch fingia que não sabia de nada?
São várias as semelhanças entre Roberto
Civita e Rupert Murdoch. Ambos têm fascínio pelo “American Dream”, ou
seja, a possibilidade de ganhar na vida na terra do Tio Sam, onde todos – eis
aí um mito – podem fazer fortuna. E, por vezes, como se vê, a qualquer custo.
Civita nasceu na Itália, mas aos dois anos, em 1938, foi com a família para os
EUA, onde viveu por pouco mais de uma década. Depois de passar algum tempo no
Brasil foi fazer universidade na Filadélfia.
Murdoch nasceu na Austrália, onde teve
início sua carreira de empresário da mídia. Depois passou vários anos no Reino
Unido, onde amealhou sua fortuna. E, finalmente, foi morar nos EUA para
realizar seu sonho, o de obter a cidadania norte-americana e ser dono de um
grande diário, no caso o Wall Street Journal.
Segundo o Inquérito Leveson, o patrão
da News Corp. não tem “capacidade” para dirigir um grupo internacional. Isso
seria possível no Brasil de Roberto Civita?
Nenhum comentário:
Postar um comentário