Enrolado,
Alckmin se agarra às más companhias
Josias de Souza
Reportagem da Folha de São Paulo
13/08/2013 20:59
O governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin, convocou uma entrevista coletiva para repassar aos
jornalistas duas informações sobre o conluio que fraudou licitações para a
compra de equipamentos de trens e do metrô:
1. Seu governo não
está na chuva sozinho: “Não houve cartel só em São Paulo.
[…] Há irregularidades em licitações de transporte e energia em diversos outros
Estados e também em obras do governo federal.”
2. A delatora
Siemens será processada: “A empresa foi chamada duas vezes pela controladoria
do Estado de São Paulo para prestar esclarecimentos. E, por duas vezes, se
recusou a colaborar com as investigações. Cabe a nós, agora, conseguir o
ressarcimento devido ao Estado.” Paradoxalmente, os contratos serão mantidos.
É curiosa, muito
curiosa, curiosíssima a movimentação do tucanato. A plateia fica com a
impressão de que as plumas e os bicos só se mexem quando alguém grita “pega
ladrão”.
Trocando em miúdos:
descobriu-se que os trilhos de São Paulo cheiravam mal em 2008. Naquele
ano, noticiou-se no estrangeiro que a fancesa Alstom encontrava-se sob
investigação na França e na Suíça. A empresa pagara propinas ao redor do mundo,
inclusive no Brasil. Só no metrô de São Paulo, a Alstom distribuíra por
baixo da mesa US$ 6,8 milhões. (Nessa fase, a encrenca também tinha
ramificações noutros Estados e no governo federal, então sob Lula).
Uma autoridade
envolvida nessa apuração que veio à luz em 2008 relatara que, três anos antes,
pessoas responsáveis pelas compras de equipamentos em São Paulo sugeriram à
Alstom que desse “um presente político para o caixa do partido”. Que partido?
Desde 1995, a agremiação que dá as cartas no Estado é o PSDB.
Surpreendido pela
notícia, o tucanato prometera rigorosas apurações. E nada. Num raciocínio de
lavadeira, os tucanos imaginaram que bastaria colocar o ferro em cima do
escândalo e esperar o tempo passar. Erro. De repente, a alemã Siemens, parceira
da Alstom num dos contratos do metrô paulista, propôs ao Cade trocar autodelação
por leniência punitiva.
Celebrado o acordo,
a Siemens levou à mesa as cartas marcadas de São Paulo, do Distrito Federal e,
pelo que diz Alckmin, também de outras praças. O que faz o governador de São
Paulo? Finge que 2008 não existiu, declara que seu governo é “vítima”, insinua
que o estouro de cartéis é atribuição do Cade, trata o delator a pontapés e
liga o ventilador: “Não houve cartel só em São Paulo.” Novo erro.
As más companhias
não melhoram nem pioram a alma de ninguém. Judas andava com Cristo. E vice-versa.
Na verdade, o que as más companhias –e sobretudo as péssimas companhias—
oferecem é a ilusão que faz certas pessoas se imaginarem melhores do que são. O
PSDB ainda não se deu conta. Mas as ruas cheias de junho revelaram o surgimento
de um Brasil diferente. Um país que já não aceita passivamente o papel de bobo.
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