A mulher segundo Clarice Lispector
Mestra dos detalhes, a autora é uma das mais
replicadas na rede. Entenda por que as frases de Clarice se tornaram fenômeno
pop
Verônica Mambrini, iG São Paulo | 19/03/2012 11:37
Clarice Lispector (1920-1977). Principais obras: A Hora da Estrela
(1977) e A Paixão segundo G.H. (1964). Modernismo
“Eu era uma mulher casada. Agora sou uma mulher.”
Essa única frase resume a essência do conto “A Fuga”, de Clarice Lispector, no qual uma mulher sai de casa e, ao passar algumas horas sozinha numa praça, decide se separar do marido. Essa capacidade de fazer em poucas palavras sínteses de situações humanas complexas se tornou um prato cheio para internautas.
Os sites de mensagens inspiradoras e as redes sociais espalham e compartilham dezenas de frases atribuídas à escritora, geralmente acompanhadas de fotos e músicas românticas. Nem sempre, no entanto, as frases foram de fato retiradas dos livros, das entrevistas ou das colunas femininas que Clarice escrevia para jornais, nos quais assinava com pseudônimos, como Tereza Quadros e Helen Palmer.
Apesar de nem tudo que a gente recebe nas nossas caixas de email ou nos feeds de redes sociais ter sido de fato assinado por ela, Clarice Lispector é um sucesso nas redes. Sua fanpage no Facebook, por exemplo, tem mais de 160 mil seguidores! (Só para dar uma ideia, a do cantor Roberto Carlos tem cerca de 16 mil).
Essa única frase resume a essência do conto “A Fuga”, de Clarice Lispector, no qual uma mulher sai de casa e, ao passar algumas horas sozinha numa praça, decide se separar do marido. Essa capacidade de fazer em poucas palavras sínteses de situações humanas complexas se tornou um prato cheio para internautas.
Os sites de mensagens inspiradoras e as redes sociais espalham e compartilham dezenas de frases atribuídas à escritora, geralmente acompanhadas de fotos e músicas românticas. Nem sempre, no entanto, as frases foram de fato retiradas dos livros, das entrevistas ou das colunas femininas que Clarice escrevia para jornais, nos quais assinava com pseudônimos, como Tereza Quadros e Helen Palmer.
Apesar de nem tudo que a gente recebe nas nossas caixas de email ou nos feeds de redes sociais ter sido de fato assinado por ela, Clarice Lispector é um sucesso nas redes. Sua fanpage no Facebook, por exemplo, tem mais de 160 mil seguidores! (Só para dar uma ideia, a do cantor Roberto Carlos tem cerca de 16 mil).
“As pessoas gostam de máximas e Clarice tinha mesmo essas frases
sentenciosas. ‘A descoberta do mundo’ é cheio delas”, diz Yudith
Rosembaum, professora de literatura brasileira na Universidade de São Paulo e
autora, entre outros, do perfil “Metamorfoses do Mal – uma leitura de
Clarice Lispector” (Edusp).
“Os textos dela tocam em aspectos importantes da condição humana,
mergulham naquilo que temos de melhor e de pior no campo das relações pessoais,
afetivas, sentimentais e dos valores éticos”, ressalta Nádia Battella Gotlib,
professora da USP e autora de "Clarice Fotobiografia"
(Imprensa Oficial).
“E ‘eu te amo’ era uma farpa, que não se podia tirar com uma pinça.”
“Ela sabe como chacoalhar com o ‘de-dentro’ da gente, abrindo novas
perspectivas de sensações e de visões daquilo que nos rodeia. Clarice promove
uma nova descoberta do mundo”, acredita Nádia.
De quebra, a autora ucraniana é ela própria uma imagem que remete ao mistério do feminino. “Se essa imagem de mulher bonita, charmosa, atraente, funciona como um pólo de atração para o que ela escreveu, então não há como rejeitar esses atributos físicos”, afirma Nádia Gotlib. “São uma isca para os seus textos. Mas a beleza da sua arte está acima desses traços de mulher bonita”, ressalva.
Clarice dominava o universo feminino e partia dele para falar da sua experiência de mundo. “Ela priorizou protagonistas mulheres, mas na obra da Clarice, essas mulheres ganham uma dimensão universal que toca nas entranhas do humano”, afirma Yudith.
De quebra, a autora ucraniana é ela própria uma imagem que remete ao mistério do feminino. “Se essa imagem de mulher bonita, charmosa, atraente, funciona como um pólo de atração para o que ela escreveu, então não há como rejeitar esses atributos físicos”, afirma Nádia Gotlib. “São uma isca para os seus textos. Mas a beleza da sua arte está acima desses traços de mulher bonita”, ressalva.
Clarice dominava o universo feminino e partia dele para falar da sua experiência de mundo. “Ela priorizou protagonistas mulheres, mas na obra da Clarice, essas mulheres ganham uma dimensão universal que toca nas entranhas do humano”, afirma Yudith.
“Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém
estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.”
Muitas das personagens de Clarice estão ligadas a vida doméstica, a
ambientes internos e familiares. “É uma escritora do feminino", afirma
Yudith. “Mas esse feminino pode ser vivido por um homem. A importância da obra
da Clarice não está só ligada ao fato dela ter falado de e para mulheres. No
século 21, seus contos e romances continuam dissecando o desamparo do ser
humano”, diz a professora. “É um olhar histórico da mulher aprisionada em casa,
mas que tem caráter universal, mesmo fora dessas condições sócio-econômicas.”
“Confesso que até alguns anos atrás pensava que Clarice era lida mais por mulheres. Hoje acho que não. Afinal, o mergulho nas profundezas da alma humana pode feito por qualquer um”, afirma Nádia.
“Confesso que até alguns anos atrás pensava que Clarice era lida mais por mulheres. Hoje acho que não. Afinal, o mergulho nas profundezas da alma humana pode feito por qualquer um”, afirma Nádia.
O destino de uma mulher é ser mulher.
E vale ler Clarice a conta-gotas, em frases soltas, para entender o que
é a vida? “Muitos são iniciados em Clarice lendo pequenos trechos pela internet.
E destes textos passam, depois, para outros textos publicados em livros”, diz
Nádia. “Continua sendo o melhor modo de ler a autora.”
Mas fica o alerta: “Muitos dos textos que circulam na internet não são de Clarice.”
Inspire-se nas frases autênticas de Clarice Lispector sobre a vida, sobre ser mulher e sobre o amor
“Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante” – do conto "Felicidade Clandestina"
“O destino de uma mulher é ser mulher”, em “A hora da Estrela”
“Eu antes era uma mulher que sabia distinguir as ciosas quando as via. Mas agora cometi o erro grave de pensar”, em Um Sopro de Vida
“Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado” , do conto “Amor”
“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”, em Perto do Coração Selvagem
“A vida é curta demais para eu ler todo o grosso dicionário a fim de por acaso descobrir a palavra salvadora”
“A vida é igual em toda a parte e o que é necessário é a gente ser a gente”
Mas fica o alerta: “Muitos dos textos que circulam na internet não são de Clarice.”
Inspire-se nas frases autênticas de Clarice Lispector sobre a vida, sobre ser mulher e sobre o amor
“Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante” – do conto "Felicidade Clandestina"
“O destino de uma mulher é ser mulher”, em “A hora da Estrela”
“Eu antes era uma mulher que sabia distinguir as ciosas quando as via. Mas agora cometi o erro grave de pensar”, em Um Sopro de Vida
“Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado” , do conto “Amor”
“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”, em Perto do Coração Selvagem
“A vida é curta demais para eu ler todo o grosso dicionário a fim de por acaso descobrir a palavra salvadora”
“A vida é igual em toda a parte e o que é necessário é a gente ser a gente”
“Amar os outros é a
única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às
vezes receber amor em troca” – em "A
Descoberta do Mundo"
“Com todo perdão da palavra, eu sou um mistério para mim”, frase de Clarice em “Esboço para um futuro retrato”, de Olga Borelli
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“Com todo perdão da palavra, eu sou um mistério para mim”, frase de Clarice em “Esboço para um futuro retrato”, de Olga Borelli
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“Minha verdade espantada é que eu
sempre estive só de ti e não sabia. Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que
não sei usar. Grande responsabilidade da solidão. Quem não é perdido não
conhece a liberdade e não a ama. Quanto a mim, assumo a minha solidão” - "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres"
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