Conheça a fábrica totalmente operada
por cegos nos Estados Unidos
Taxa de desemprego entre adultos
cegos é de quase 70% nos EUA; proposta é aliar inclusão social e econômica com
sustentabilidade
Nicole Laporte, The New
York Times | 28/03/2012 05:40
Quando Chris Yura, executivo-chefe da
empresa de vestuário SustainU, estava procurando uma fábrica para produzir
24.000 camisetas, era imperativo que ela estivesse localizada dentro de um raio
de 325 quilômetros de onde o tecido havia sido feito.
A SustainU, com sede em Morgantown,
West Virginia, nos Estados Unidos, utiliza diversos materiais reciclados para
fazer roupas para faculdades e universidades. Como o próprio nome indica, é uma
empresa comprometida com a "sustentabilidade social, econômica e ambiental",
disse Yura. Custos, mas baixo custo de transporte significaria mais benefícios
ambientais e um tempo de resposta mais rápido, sem mencionar que o custo de
envio acabaria saindo mais barato.
A empresa descobriu uma fábrica em
Winston-Salem na Carolina do Norte, também nos Estados Unidos, que parecia uma
escolha lógica. Mas esta não era uma fábrica comum. Operada pela Winston-Salem
para Cegos, a fábrica tem uma força de trabalho que é composta por
trabalhadores cegos ou deficientes visuais.
Para muitos, isto poderia ter sido um
empecílio. "Mesmo que você tenha o Ato dos Deficientes ao seu lado, ainda
assim não deixa de ser um desafio já que as pessoas que não estão
familiarizadas com os cegos têm percepções equivocadas sobre o que eles podem
ou não fazer e isso afeta suas decisões para dar a essas pessoas uma
oportunidade", disse Kevin A. Lynch, presidente-executivo da empresa.
A taxa de desemprego para os adultos
cegos é de quase 70% - um número que está estagnado há 30 anos, disse Lynch.
Existe uma certa noção de que contratar
trabalhadores cegos - ou até mesmo qualquer trabalhador com deficiência -
significa gastar mais dinheiro, tempo e recursos em seu treinamento e em
equipamentos. Mas Yura disse que não percebeu nenhuma diferença no custo ou na
qualidade de trabalhar com a agência de Winston-Salem.
Quando as pessoas cegas entram em
contato com a agência, muitas vezes elas não possuem nenhuma experiência de
trabalho. Elas são treinadas para realizar tarefas específicas e trabalham com
equipamentos adaptados para ajudá-las a fazer seus trabalhos.
Se estão fazendo lentes para óculos,
por exemplo, alertas sonoros são programados para disparar para que eles saibam
quando as lentes já passaram tempo suficiente em uma máquina de polimento. Ou
se estão montando pára-quedas, guias de medição tátil, na forma de longos
trilhos de madeira, ajudam a garantir que os comprimentos das cordas sejam
todos iguais.
O treinamento oferece conhecimentos
práticos e uma oportunidade de ascensão social através de aulas certificadas.
Trabalhadores sem experiência recebem um salário mínimo, enquanto aqueles com
alguma experiência são pagos de acordo com os trabalhadores que fazem
atividades semelhantes em fábricas de outras áreas, disse Jeanne Wilkinson,
vice-presidente de estratégias de negócios na Winston-Salem .
Anastasia Powell, mãe de três filhas
que faz parte da empresa há sete anos, trabalha na unidade de camisetas. Seu
trabalho é costurar os ombros. Ela recebeu quatro meses de treinamento e sua
máquina de costura é projetada especificamente para ela.
O governo federal já sabe faz tempo
sobre a eficácia de uma força de trabalho de deficientes físicos. Criada em
1938 como resultado de uma lei assinada pelo presidente Franklin D. Roosevelt,
uma determinação legal obrigava as agências federais a comprarem produtos
feitos por trabalhadores cegos.
Desde então, o grupo e suas agências
têm fabricado dos mais diversos produtos como vassouras e colchões para o
governo e para os militares. (Além de roupas, a agência de Winston-Salem produz
óculos para os veteranos e pára-quedas para os soldados servindo no Afeganistão.)
Mas, com a retirada gradual dos
soldados dos Estados Unidos de zonas de guerra e a redução geral dos militares,
o grupo nacional espera perder futuramente e fazer mais negócios com empresas
do setor privado, disse Lynch.
"Eu acho que existe um interesse
cada vez maior entre o público em geral na responsabilidade social e acredito
que isso está sendo refletido na responsabilidade social corporativa",
disse ele. "Há também um grande interesse nas coisas produzidas nos
Estados Unidos."
Mostrar que produtos de alta
qualidade podem ser produzidos nos Estados Unidos por pessoas cegas é uma
importante característica para comercialização, disse ele.
Yura, que já está planejando
contratar um outro trabalho da agência de Winston-Salem, está feliz em endossar
esta mensagem. E as 24.000 camisetas que ele solicitou: "Não dá para dizer
se a pessoa que fez esta camiseta era cega ou não. No fim do dia, é um produto
como qualquer outro."
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