Repúdio ao ‘antijornalismo’ do jornal Povo de Cubatão
Lamentável, inimaginável, inominável e inconcebível a atitude do jornal Povo de Cubatão ao estampar, em sua edição de 06 a 12 de abril, uma página quase em branco, que, particularmente, considero inverídica e ofensiva, afirmando que “tudo o que a prefeita Marcia... Rosa tem - teria - a dizer ao Povo de Cubatão, seria ‘reticências entre aspas’”. Isto não é verdade!
Bem, antes de mais nada, é preciso que se saiba que eu acho profundamente antiético tecer críticas ou quaisquer comentários sobre um veículo de comunicação em outros meios. Mas, a meu ver, ética foi justamente o que faltou ao Povo de Cubatão ao fazer o que fez. Poderia eu ser ‘magnânimo’ e não adotar o mesmo expediente que suponho ter sido utilizado pelo Povo, mas, se assim agisse, como saberiam o que penso, ou o que sei?
A esta altura, cabe lembrar que a história que escrevi como jornalista nesta Cidade está intimamente – e quase que exclusivamente – ligada ao Povo de Cubatão, algo de que sempre me orgulhei. Foi justamente o meu desempenho neste veículo que me projetou profissionalmente em Cubatão. Por outro lado, sou, também, um dos responsáveis pela grande aceitação desse jornal. Nossas trajetórias se misturam. Afinal, faço parte da história deste jornal. Ajudei, ao lado dos jornalistas Gilson Miguel e Lula Terras, a construí-lo, desde a sua primeira edição, lançada em 17 de abril de 1999.
Nosso trabalho, mesmo que audacioso e incomum para a época, fez com que o Povo de Cubatão obtivesse tamanha credibilidade e popularidade que, talvez, nenhum outro veículo de comunicação jamais tenha tido em Cubatão.
Justamente por isso me sinto credenciado e bastante a vontade para tecer as críticas que ora teço. Pois tais popularidade e credibilidade foram conquistadas por meio de um jornalismo combativo, engajado, opinativo, contundente e mordaz, é bem verdade; mas todo ele calcado na veracidade dos fatos. Desdenhávamos, comentávamos, interpretávamos... é inegável, mas sobre fatos reais, verdadeiros. Jamais “fabricamos” qualquer notícia. Tudo poderia ser facilmente comprovado. Era isto – e ‘apenas’ isto – que diferenciava o Povo dos demais jornais alternativos.
Mas, para minha surpresa, me deparo com uma “página em branco” na última edição do Povo. Confesso que fiquei indignado. Até porque sei perfeitamente que a história não é bem assim. Para mim, uma página “em branco” não pode ser taxada de “jornalismo”. De “antijornalismo”, talvez. Ou marketing político, quem sabe?
A bem da verdade, o referido pedido de entrevista foi formulado pelo jornalista Raul Christiano diretamente à Prefeita e ao secretário de Comunicação, que se dispuseram a viabilizá-la, como ocorreu com todos os veículos da região que solicitaram ouvir a Prefeita. Mas, cabe destacar, isto foi feito contrariando a rotina, sem que nada passasse pela Assessoria de Imprensa, que tem, entre suas atribuições, agendar as entrevistas da Prefeita e dos secretários municipais. Tudo aconteceu sem o conhecimento da Assessoria.
A despeito disso, na tarde de quarta-feira, o jornalista do Povo, Leandro Frota, com quem tive a oportunidade de trabalhar no jornal Reação Popular, me ligou em meu celular particular cobrando a entrevista que sequer eu sabia que fora pedida. Ainda assim, me comprometi a agilizar sua concessão. Minutos depois, liguei para Leandro para informá-lo que a Prefeita estava pronta a recebê-lo. Quem atendeu à ligação me disse que ele estava em outra, entrevistando os ex-secretários de Habitação e Educação. Deixei recado e pedi que desse retorno, o que não foi feito. Posteriormente, soube que novo contato fora feito com o Gabinete, o que me levou a crer que tudo houvesse se resolvido pelas vias não convencionais.
Na quinta-feira (ponto facultativo), o mesmo jornalista voltou a me ligar solicitando outras informações, no que foi prontamente atendido, e não mencionou nada sobre a entrevista com a Prefeita. Na minha opinião, se houvesse mesmo a intenção de entrevistar a chefe do Executivo cubatense, ainda haveria tempo hábil para isto, a despeito de qualquer “desencontro” ou “falha de comunicação” . Como nada foi dito, só posso crer que a ação tenha sido deliberada. Entendo que vivenciamos um momento político e que “certas coisas” fazem parte do jogo. Mas, mesmo tendo posicionamento político assumido, o chamado “quarto poder” – tenho dúvidas quanto a essa colocação, já que o econômico é o primeiro poder – deve seguir algumas regras e a ética que norteia o jornalismo. Caso contrário, deixaremos de ser formadores de opinião para nos transformar em “desinformadores”. Mas, talvez, isto faça, também, “parte do jogo”. Um jogo com o qual não concordo.
Diante disto, mais que indignação, sinto profunda tristeza em ver um jornal que já foi o responsável por dar voz a quem não a tinha, hoje, calar até quem a tem e, dela, não se furta a fazer uso. E, isto, enquanto, ou melhor, porquanto (e só porque!) “os homens exercem seus podres poderes!”. Mas, talvez, isto seja apenas mais uma “parte do jogo”, infelizmente.
* Jorge Ramos é jornalista
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