Histórias das ruas
Blog Histórias das ruas
http://www.historiasdasruas.com/Esse blog é sensacional, conta histórias de pessoas da rua. Vale a pena conhecer esse projeto. O blog também está concorrendo ao prêmio de melhor blog em português. Você vai conhecer muitas histórias de vida.
Texto do Blog Histórias das ruas
Dois pais, duas mães.
Andando pelo mesmo caminho rotineiro, próximo a estação Tiradentes de Metro da cidade de São Paulo, pude observar uma senhora que todos os dias fica no mesmo lugar com suas coisas. Cabelos brancos, sempre muito bem arrumada em vestimentas e com um semblante aborrecido, é ela que vai nos contar hoje a sua história.
No começo um pouco relutante não querendo nem mesmo dizer o seu nome e no final agradecendo por eu ter parado para conversar com ela. Vale a pena ler!
Com toda essa história, depois de um tempo, consegui entender o lado dos meus pais biológicos e comecei a me aproximar mais deles. Alguns meses se passaram depois da morte do meu pai e minha mãe (criação) veio a falecer também.
Mesmo com a morte dos meus pais continuei morando na mesma cidade e após alguns meses eu terminei o meu casamento. Meu ex-marido bebia muito e não possuía mais nenhum respeito por mim. Divorciada, sem lugar para morar, um dos meus irmãos mais velho mandou dinheiro para eu me mudar para a cidade de São Paulo e viver junto com a minha mãe (biológica). Como não tinha outra opção, eu aceitei e vim morar com ela na capital.
Ao chegar à cidade já comecei a trabalhar como domestica em uma casa de família, como já fazia em Pernambuco. Fiquei trabalhando na mesma casa por quatro anos. Dois anos após eu ter me mudado para São Paulo minha mãe biológica faleceu, mas como eu já tinha um emprego e conseguia me sustentar sozinha, continuei morando na mesma casa. Comecei a ficar muito sozinha e entrei em uma grande depressão. Como estava sem motivação para nada, perdi meu emprego. Perder o emprego foi um dos motivos mais fortes que tive para vir parar nas ruas. Eu não tinha e até hoje não tenho muita amizade com os meus irmãos, nunca nos demos muito bem, pensamentos muito diferentes e crescemos muito distantes uns dos outros. Eles não podiam me ajudar e com três meses de aluguel atrasado eu fui despejada da casa onde vivia. Nesse momento, tentei procurar ajudar na igreja onde frequentava e uma de minhas amigas me estendeu a mão e deixou eu ficar por um tempo na casa dela até eu retomar a minha vida, porem, comecei a ter muitos problemas com o marido dela e para não causar um problema maior ou até mesmo uma briga resolvi eu mesma sair de lá e fui para as ruas. A minha vinda as ruas foi natural, comecei a passar uma semana e quando vi já estava quase há um ano dormindo cada dia em um lugar diferente. Vivo assim há quatro anos.”
- “Não, nunca mais tive contato com ninguém. Como já disse, eu e meus irmãos somos totalmente diferentes, isso dificulta demais a nossa relação.”
- “Não diria abandonada, e sim triste. Depois de um tempo vivendo na rua, você perde a esperança de voltar a ser a pessoa que um dia você já foi.”
- “Não (risos)... Ainda tenho esperança de sair das ruas e poder pelo menos ter uma casa para eu cuidar.”.
- “Depois que você vive por um tempo nas ruas, é muito difícil alguém confiar em você, ninguém confia em mim. Nunca usei drogas e sempre fui uma pessoa muito reservada. Mesmo dizendo que já trabalhei por anos em casa de família, ninguém acredita na minha palavra.”
- “Sim, a pouco menos de um ano eu estava dormindo e um homem, morador de rua também, tentou me roubar e começou a me bater quando eu estava deitada em uma madrugada. Algumas pessoas viram as agressões, mas ninguém fez nada para ajudar.”
- “A rua é perigosa. Não dormimos! Eu levo comigo uma teoria, para os homens, a rua é mais fácil de viver, para mulher e principalmente de mais idade como eu, é muito mais difícil. Temos a questão de higiene que é muito complicada nas ruas.”
- “Não, infelizmente tenho um problema que não consigo engravidar.”
- “Sim. Tenho boas recordações de todas as pessoas que sentam ao meu lado para conversar.”
- “Sair das ruas!”
- “Felicidade para mim é poder ter uma família e conviver bem com todos, ter uma casa e um trabalho.”
- “Na rua não existe felicidade.”
- “Nunca abandone a sua família, brigar é normal mas se entendam depois, procure entender as pessoas e acima de tudo, nunca perca a esperança!”